18 de agosto de 2016

Filhos de fundador da Famasul são alvos de Operação da Policia Federal

José Armando Cerqueira Amado, um dos alvos da Operação encabeçou os protestos a favor do Impeachemnt da presidente Dilma Roussef
 
       José Armando Cerqueira Amado, um dos alvos da Operação encabeçou os protestos a favor do Impeachemnt da presidente Dilma Roussef
 
A Polícia Federal cumpriu cinco mandados de prisão preventiva na manhã desta quinta-feira (18), em Caarapó, a 264 km de Campo Grande. A força-tarefa, denominada Avá Guarani, foi em busca de fazendeiros envolvidos na retirada violenta de indígenas da Fazenda Yvu, que resultou na morte de um índio e na lesão de outros nove por arma de fogo, em junho deste ano.
 
Além de Caarapó, os policiais estiveram em Campo Grande, Dourados e Laguna Carapã. Agentes da superintendência da Policia Federal atuaram na operação, desde a madrugada. Os presos prestam depoimento neste momento no município de Dourados. Ainda conforme a assessoria, as investigações foram conduzidas pelo Ministério Público Federal (MPF) e a Justiça Federal acatou os pedidos. Além de prisões, houve buscas e apreensões.
 
Entre os alvos da Operação da Policia Federal estão os irmãos Silvana Amado Buainain e José Armando Cerqueira Amado e o fazendeiro Nelson Buainain Filho proprietários da Fazenda Yvu no qual ocorreu a retirada violenta de indígenas, Silvana e Armando Cerqueira são filhos do produtor rural Sylvio Mendes Amado, que morreu em julho de 2014 aos 95 anos.
 
Ele foi um dos fundadores da Federação da Agricultura e Pecuária do Mato Grosso do Sul (Famasul). Além de ocupar um cargo na diretoria da Famasul, o advogado José Armando Cerqueira Amado preside o Sindicorte (Sindicato dos Pecuaristas de Corte do Estado de MS) e também a Caixa de Assistência aos Advogados (CAAMS) cota do advogado da família, o vice-presidente da OAB-MS Gervásio de Oliveira.
 
O advogado Armando Cerqueira também encabeçou o movimento de rua "MUDA BRASIL" que pedia o Impeachment da presidente Dilma Roussef (PT). Já Silvana é mulher do fazendeiro Nelson Buainain Filho, um dos herdeiros da Rede São Bento. Buainain é filho do ex-deputado estadual Nelson Buainain.

Entenda o caso
 
Buainain foi apontado pelo Ministério Público Federal por arregimentar pessoas para o ataque aos índios Guarani-Kaiowá, no dia 14 de junho.
 
Procurado pelo i9, o procurador da República Marco Antônio Delfino de Almeida disse que a nota do Sindicato Rural de Caarapó prova que o próprio proprietário Nelson Buainain Filho arregimentou voluntariamente pessoas para se reunir e retirar os índios da fazenda Yvu.
 
"Na nota, o sindicato aponta o próprio proprietário [Nelson] como a pessoa que arregimentou voluntariamente pessoas para se reunir e retirar os índios, então isso é um ponto. Obviamente que há muitos vídeos que a comunidade [Guarani-Kaiowá] nos passou. Em depoimentos várias pessoas foram identificadas. Entendemos que há vários elementos ali que permitem que avancemos para identificar as pessoas que deliberaram e conduziram com mais relevância essa ação", afirmou o procurador.
 
O Sindicato Rural de Caarapó diz em nota oficial que Nelson Buainain pediu apoio a alguns produtores do município (distante 286 quilômetros de Campo Grande) para "inibir" a presença dos índios Guarani-Kaiowá na fazenda no dia 14 de junho.
 
"Ao chegar em Caarapó, Nelson pediu apoio a alguns produtores, no intuito os mobilizarem a ir para sua propriedade – a intenção era inibir a presença dos poucos índios que haviam na fazenda," disse.
 
A investigação aponta que os proprietários rurais teriam envolvimento direto com o ataque e podem responder pelos crimes de homicídio e dano qualificado, constrangimento ilegal, lesão corporal e formação de milícia privada.

Crime é denunciado no exterior
 
O ataque sofrido pelos índios na Fazenda Yvu foi denunciado na Noruega, onde ocorre o Oslo Redd Exchange 2016, um evento sobre desmatamento que reúne 35 países. "Hoje é um dia de solidariedade ao líder Cloudione, que foi assassinado. Qualquer iniciativa como o REDD+ deve ter como ponto de partida o reconhecimento dos direitos humanos dos povos indígenas", afirmou no evento Joênia Wapixana, primeira advogada indígena brasileira.
 
A Survival International, ONG que defende os direitos indígenas no mundo, também afirmou, em nota, que o ataque possivelmente faz parte da "escalada da tentativas por parte de poderosos interesses do agronegócio e da agropecuária, estreitamente vinculados ao Governo interino [de Michel Temer], para expulsar ilegalmente os guarani de sua terra ancestral e intimidá-los com atitudes racistas e violência genocida."
 
O Instituto Socioambiental (ISA), organização brasileira que luta pela questão ambiental, fez um editorial em que também culpa fazendeiros e pistoleiros pelo ataque. "Trata-se de mais um assassinato praticado por milícias privadas no Mato Grosso do Sul, onde ocorre um dos maiores índices de concentração fundiária do Brasil, que, por sua vez, é o país com a segunda maior taxa de concentração fundiária em todo o mundo, superada apenas pela da África do Sul."
 
O Conselho Indigenista Missionário (CIMI) chamou de "massacre" o ataque desta terça-feira e categorizou como "paramiltar" a ação. Ressaltou também que foram registrados ao menos vinte e cinco casos similares no Estado.

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