17 de março de 2016

CPI do Cimi: vereador Terena desmonta versão de delegado da PF

Foto _ Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul

Um dos principais argumentos do delegado da Polícia Federal (PF) Alcídio de Souza Araújo contra o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) foi desmontado pelo vereador e indígena Terena, Cledinaldo Cotócio (PROS), do município de Sidrolândia (MS), em seu depoimento na quarta-feira, 16, à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que acusa a entidade indigenista de financiar e organizar ocupações de terra no estado.
Segundo o delegado Alcídio, teria sido uma afirmação dada pelo vereador a ele próprio e ao Superindendente da PF (no primeiro dia da tentativa de reintegração de posse da Terra Indígena Buriti, em 18 de maio de 2013) que levou os policiais a identificarem o Cimi como o “componente” desmobilizador da saída dos indígenas da área.

O que disse Alcídio à CPI, em 27 de outubro de 2015:

[Alcídio] (...) cheguei lá de helicóptero. Pousamos num posto de gasolina em [município de] Sidrolândia. E ali o posto nos forneceu o local pra nos reunir, nós os policiais. Chegou um vereador indigena de Sidrolândia, não me lembro o nome, mas é fácil se verificar, dizendo diante do Superintendente e demais policiais que existiam componentes do Cimi instigando os índios a não saírem da fazenda. Aí ele [o vereador] falou: “Eles não vão sair, porque o Cimi tem uma hierarquia, não diria hierarquia, um poder de convencimento muito grande, e não vão sair”. Tá. A partir daí organizamos tudo, falaram que o fazendeiro tá lá, tem que retirar o fazendeiro - à época, o senhor Ricardo Bacha. Nos dirigimos ao local.
[deputada Mara Caseiro] O nome do vereador é Cledinaldo Cotossio? O senhor se lembra?
[delegado Alcídio] Ele é jovem, e é de [município de] Miranda e é indígena, então acredito que seja fácil localizá-lo…
[deputada Mara Caseiro] De Miranda?
[delegado Alcídio] Correção, de Sidrolândia…
[deputada Mara Caseiro] Eder?
[delegado Alcídio] Haha, essa eu não poderia… Haha...
[deputada Mara Caseiro] Ele é indígena?
[delegado Alcídio] É indígena…
         (...)
[deputado Paulo Corrêa] É ele mesmo? Confirmado então, o vereador tá reconhecido, é o Cledinaldo.
Já Cotócio tem uma versão bastante diferente da história. Segundo o vereador, houve, sim, o encontro no posto de gasolina em Sidrolândia. “Recordo que falei com ele, tava preocupado com o que tava acontecendo, que lá tinha jornalistas”, rememorou.
No entanto, Cotócio afirmou diversas vezes durante o depoimento que, em momento algum, ele teria dito que Cimi ou qualquer outra organização ou pessoa não-indígena estaria incitando ou organizando os indígenas a existirem.

A pergunta - “o senhor não afirmou que o Cimi estaria orientando para as pessoas resistirem?” - foi repetida insistentemente pelos parlamentares membros da CPI. Em todas às vezes, Cotócio negou ter dito isso aos policiais. “Se tinha Cimi ou não, eu não posso dizer. Eu não afirmei a ele que eram do Cimi. Pode fazer uma acareação entre eu e o delegado”, retrucou. “Falei que tava muito preocupado com a situação, da fazenda do Ricardo Bacha”.

O que respondeu o vereador Cledinaldo Cotócio à CPI, na quarta, 16:


[deputada Mara Caseiro] O Álcidio afirmou que o senhor disse que o Cimi estava por trás, para que os indios não saíssem das áreas. Você acabou de esclarecer que não disse, que sequer reconhece as pessoas do Cimi.
          (...)
[deputado Paulo Corrêa] O delegado federal é um caso interessante. Foi ele que mediou o conflito. Ele afirmou categoricamente, sob pena de fazer uma acareação. Ele disse que chegou num posto de gasolina, encontrou você. Ele disse que você avisou pra ele que a situação estava tensa, e que tinha gente do Cimi lá dentro incitando os índios a manter a ocupação, que o Cimi fez eles ficarem na terra. Você avisou isso pra ele?
[Cotócio] Não. Ele me perguntou isso. Eu disse que tinha jornalistas.
[deputado Paulo Corrêa] Você está dizendo que o delegado mentiu?
[Cotócio] Eu estou dizendo o que eu falei. Se ele mentiu, quem está falando isso é o senhor.
[deputado Paulo Corrêa] Você falou pra ele que era o Cimi quem estava por trás?
[Cotócio] Não.
              (...)
    [deputada Mara Caseiro] O senhor não afirmou que o Cimi estaria orientando para as pessoas resistirem?
    [Cotócio] Eu não disse ao delegado que o Cimi estava por trás. Eu disse que estava preocupado com a situação [de conflito].

    Os parlamentares aprovaram uma acareação entre o delegado da PF e o vereador, ainda sem data par acontecer.
    No mesmo dia do depoimento de Cotócio, o legítimo cacique da aldeia Argola, Edson Candelário, também falou à Comissão, corrigindo o depoimento anterior do indígena Fábio Lemes, que se auto-entitulou liderança daquela área. Após o testemunho da liderança ilegítima, caciques do povo Terena entregaram à CPI um documento assinado repudiando a convocação de Fábio afirmando que o mesmo não é o cacique legítimo da Aldeia Argola, e sim Candelário.






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