7 de março de 2016

Agda - O desabafo de uma jovem líder Kaiowá

Fotos _ Arquivo Pessoal
“Quando nós indígenas somos expulsos da nossa terra nossa alma fica ali, nossa vida perde sua essência, pois nossa terra sagrada chama por nós e por isso retornamos a ela, mesmo que isso custe a nossa própria vida.”


criança
Agda - boa em Grego - Riquelme Rocha, casada, mãe é uma futura advogada que nasceu na Terra Indígena Yvy Katu, tehoka que aguarda há 28 anos o processo de homologação. Ela não somente conhece de perto, mas resiste às violações aos direitos humanos no genocídio em curso no Mato Grosso do Sul.  Ainda criança já seguia os passos da mãe Leila. Leia desabafo da jovem, abaixo, postado em uma Rede Social:

Apesar de estarmos sofrendo desumanamente nos nossos tekohas, abandonados pelo Poder Público, sofrendo despejos e ataques violentos de pistoleiros e seus latifundiários, nossas crianças morrendo estamos sempre a lutar pela vida e pela nossa existência. Sonhando que um dia nossos direitos sejam respeitados, que ela (homologação) se torne concreta que não fique só no papel, que os discursos que as autoridades brasileiras e internacionais fazem pra nós se cumpram de verdade.
Que o nosso genocídio um dia pare, que nenhuma das nossas lideranças seja assassinada pelas mãos de pistoleiros na luta pelas nossas terras tradicionais. Nós, povos Guarani e Kaiowá e demais povos indígenas desse país sonhamos por um mundo melhor e de paz, não queremos guerras, queremos viver em paz e livres.

No tekoha Ivy Katu

Nosso Nhãnderú nos deu essa terra e um dia o homem branco chegou aqui e nós os recebemos como irmãos. Em troca eles nos massacraram e odiaram, disseram que não éramos dignos de sermos chamados de seres humanos que merecíamos ser todos exterminados, nos roubaram tudo e nos tiraram a vida, derramaram nosso sangue para se apossarem das nossas terras, nos expulsaram das nossas terras porque eles tinham suas armas de fogos.
Depois cercaram as nossas terras com arames farpados, nos confinaram em pequenos espaços de terras escolhidos por eles onde vivemos presos e miseráveis, onde nossos jovens se matam por causa de tanta tristeza e desespero, pois sua esperança ficou no seu tekoha, ali era sua vida sua esperança seu sonho.
Quando nós indígenas somos expulsos da nossa terras nossa alma fica ali, nossa vida perde sua essência. Pois nossa terra sagrada chama por nós e por isso retornamos a ela, mesmo que isso custe a nossa própria vida, nosso sangue. Jamais vamos abandonar nosso tekoha, somos um povo que sonha e luta incansavelmente para viver em uma terra onde um dia ele já viveu livre. É triste hoje olhar essas nossas terras onde homem branco destruiu tudo não se vê mais nenhum pé de árvore e a terra se tornou vermelha como sangue sem vida.
Com a mãe Leila em
 primeiro plano
Nós amamos nossa terra e sabemos que ela nos dá vida, mas o homem branco só a explora sem dó at é sugar todas as suas forças e isso um dia retornará a ele. O homem branco tem um enorme divída com nós povos indígenas e ele não quer reconhecer. Nós indígenas sempre fomos considerados invasores e malfeitores dentro da nossa própria terra, é só olhar e ver quem nessa história sempre perdeu? Quem sempre manchou de sangue esse chão sagrado? Quantas lideranças indígenas mortas? Quantas crianças indígenas perderam suas vidas nos seus tekohas retomadas? Porque segundo os direitos universais do homem o maior bem maior que um ser humano possui é a vida e a vida de nós povos indígenas Guarani e Kaiowá e demais povos indígenas não está sendo respeitada, nossos direitos fundamentais gravemente violados isso tudo com o aval do Estado, que concede carta branca para os latifundiários que massacram os povos indígenas nos seus tekohas.


Um genocídio em curso muitas vezes silencioso que  o Estado brasileiro faz questão de tentar esconder, mas estamos gritando sem parar e eles não vão calar o grito de um povo que clama por justiça, paz e respeito. Se temos direitos vamos sempre lutar para que sejam respeitados e cumpridos, mesmo que demore, nunca vamos desistir. Um dia essas leis que garantem nossos direitos fundamentais vão ter que sair do papel,um dia veremos nossa terras todas demarcadas e homologadas e respeitadas e essa esperança é que nos move nessa nossa luta pela vida.Guarani e Kaiowa resiste e povos indigenas resistem!!! TEKOHA TAKUARA RESISTE!!! A LUTA CONTINUA. 

Leia sobre a memória do povo Kaiowá AQUI.




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