4 de fevereiro de 2016

Indígenas retornam para aldeia incendiada por jagunços no MS

Fotos _ Cimi/MS
                 

Os indígenas Guarani e Kaiowá do tekoha – lugar onde se é – Kurusu Ambá, no município de Coronel Sapucaia (MS), retornaram nesta quinta (4) para a aldeia que foi carbonizada por pistoleiros. No dia 31 de janeiro, em meio a uma série de ataques violentos, as barracas e os pertences dos indígenas foram completamente destruídos pelo fogo criminoso, e agora eles lutam para reerguer a aldeia.

“O ataque foi intenso, até documentos pessoais foram queimados, e os pertences que não foram queimados, eles [os pistoleiros] levaram embora. Vai ter que reconstruir tudo do zero”, relatou uma liderança indígena de Kurusu Ambá, não identificada por razões de segurança.

Além do acampamento que foi completamente destruído, em outro, cinco casas foram queimadas. “As famílias que foram prejudicadas agora estão sem nada. Kurusu Amba está precisando de segurança urgente, porque novos ataques podem acontecer”, afirma a liderança Guarani e Kaiowá.

“A gente espera que o governo termine a demarcação, publique a portaria, para acabar com essa violência. É por isso que todas essa violência está acontecendo. Aqui é área de fronteira, e os fazendeiros falam que fronteira é área sem lei. Eles estão partindo para a violência, coisa que a gente nunca fez”, reitera a liderança. “Esse ano começou com muita tragédia. Pedimos que o governo faça alguma coisa para resolver essa situação, porque esse ano já começou muito errado para os Guarani e Kaiowá”.

Ataque

Os indígenas foram atacados no dia 31 de janeiro, após a tentativa de retomada da fazenda Madama, que incide sobre o território tradicional. Em represália, pistoleiros atacaram os três acampamentos que compõem Kurusu Ambá. Por volta das 10 horas da manhã do domingo, um grupo de homens armados não-identificados em ao menos três caminhonetes atacaram a tiros a nova área retomada pelos indígenas, na fazenda Madama, expulsando os Guarani e Kaiowá do local.

Pouco depois, o grupo de caminhonetes atacou também o terceiro e o segundo acampamentos de Kurusu Ambá, onde incidem as fazendas Bom Retiro e Barra Bonita. No terceiro acampamento, os pistoleiros incendiaram todos os barracos  e pertences dos Guarani e Kaiowá e forçaram os indígenas a deixarem a área, fazendo com que ficassem desalojados até esta quinta.

No segundo acampamento, pelo menos cinco casas foram totalmente incendiadas. A situação é ainda mais grave porque existem decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e da Justiça Federal que garantem a permanência dos indígenas nessas áreas até que o processo de demarcação seja concluído.

Polícia e Ministério Público Federal apuram violações

Também nesta quinta-feira, policiais federais e representantes do Ministério Público Federal (MPF) estiveram na área para averiguar a situação em que estão os indígenas e apurar as violações cometidas ao longo dos ataques desta semana.

Até terça, nenhuma força de segurança havia aparecido na área e o clima ainda era de muita tensão. Segundo relato de uma liderança indígena da área, os policiais ainda avistaram hoje alguns jagunços a cavalo, que estavam próximos à área ocupada pelos indígenas e que fugiram assim que perceberam a presença policial.

Com a chegada da segurança, os jagunços se dispersaram e não foram mais vistos nas proximidades das aldeias. Apesar disso, os indígenas de Kurusu Ambá temem novos ataques caso as forças de segurança deixem a área.


Demarcação paralisada

Há quase uma década, o tekoha Kurusu Ambá está em processo de identificação e delimitação. Com os prazos estourados, o relatório de identificação da área deveria ter sido publicado pela Funai em 2010, segundo Termo de Ajustamento de Conduta estabelecido pelo MPF em 2008. No entanto, o relatório foi entregue pelo grupo técnico somente em dezembro de 2012, e ainda aguarda aprovação da Funai de Brasília.

Em junho de 2015, os indígenas já haviam tentado ocupar a fazenda Madama, sendo violentamente expulsos pelos fazendeiros. O saldo do ataque foi de duas crianças desaparecidas, casas incendiadas e dezenas de feridos. Em 2007, ano em que os Guarani e Kaiowá iniciaram a retomada de Kurusu Ambá, duas lideranças foram assassinadas - uma delas, na mesma fazenda Madama. Entre 2009 e 2015, mais dois indígenas foram mortos em Kurusu, no contexto da luta pela terra.

O contexto conflituoso com fazendeiros dificulta, também, o acesso à saúde dos indígenas. Em janeiro deste ano, uma criança faleceu por falta de atendimento médico, no mesmo acampamento que agora foi destruído pelo fogo dos pistoleiros (na foto abaixo, indígena limpa o túmulo da menina após o ataque dos jagunços). A comunidade também sofre uma grave insegurança alimentar, passando fome e bebendo água contaminada.



Leia Mais

Por Aty Guasu

Amazônia Legal em Foco transcreve, a seguir, Informe da Grande Assembleia dos Povos Kaiowa e Guarani (Aty Guasu):

Informativo de Aty Guasu, a partir de hoje dia 04/2, as comunidades Guarani e Kaiowa de tekoha Kurusu Amba atacadas em GENOCÍDIO, incendiadas e massacradas pelo...s fazendeiros recomeçam a reconstruir as suas barracas.
Mais de 120 pessoas (crianças, adultos) se encontram sem habitações, sem alimentação, sem roupas, sem nada. Estão pedindo apoio a todos (as). 35 barracas foram queimadas. é genocídio em curso no MS. Estão precisando de roupas, utensílios de cozinha, alimentação, qualquer objeto e apoio servirão aos indígenas, visto que os fazendeiros queimaram tudo das famílias Guarani e Kaiowa. Várias crianças estão chorando muito de miséria e de fome, na região está chovendo muuito.
Hoje 04/2, de manhã, procurador da República do MPF chegou à comunidades, de helicóptero da PRF, sobrevoou a área cercada de pistoleiros das fazendas. Ontem dia 03/02, por volta das 17h, PF chegou às comunidades atacadas. Quando chegou PF ao local de cero de pistoleiros, dezenas de pistoleiros correram, e se esconderam da Polícia Federal. Nenhum pistoleiro foi preso.
É muito evidente que o povo Guarani e Kaiowa sofrem o GENOCÍDIO PROMOVIDO PELOS FAZENDEIROS E PERMITIDO PELO ESTADO BRASILEIRO. POLÍCIA FEDERAL CHEGOU AO LOCAL DE ATAQUE A TIROS DEPOIS DE 4 DIAS, ISSO É PERMITINDO O GENOCÍDIO.
Além disso, o delegado da Polícia Federal de Ponta Porã, antes de ir ao local de Kurusu Amba, um delegado da PF ligou para liderança Guarani e Kaiowa, alegando que a denúncia de ataque a tiros e queima de barracas indígenas seriam falsa. Se mentisse seria responsabilizado os líderes Guarani e Kaiowa. Esse delegado da PF acha que as centenas de comunidades inteiras e agentes da FUNAI estariam mentindo.

Já passados 4 dias, PF chegou ao local, esse fato é FORMAS DE promover o GENOCÍDIO E VIOLÊNCIA CONTRA O GUARANI E KAIOWA NO MS. Um delegado da PF chegou ao Kurusu Amba e viu dezenas de barracas queimadas, encontraram centenas de cartuchos de armas de fogos utilizados contra os indígenas Guarani Kaiowa, mesmos assim, não prendeu nenhum pistoleiro das fazendas. pedimos JUSTIÇA! Pedimos uma investigação séria. e Punição ao autor/mandantes/financiadores de GENOCÍDIO”.

ATY GUASU LUTA CONTRA GONOCÍDIO.

Um comentário:

  1. Até quando o genocídio vai continuar, com tanta violência, dureza e sem nenhuma punição?

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