15 de outubro de 2015

CPI do CIMI: Jornalistas ouvidos dizem não ter provas de que o Conselho Indigenista Missionário cometa crime

Lorenzo Carrasco
Deputado Pedro Kemp (C)
Durante a CPI do CIMI (13), ao invés de oitivas, previstas no regimento da Assembleia Legislativa, o que se deu ontem foi uma palestra do jornalista mexicano Lorenzo Carrasco. Tanto Carrasco como o jornalista Nelson Barreto não tem informação de que há uma participação do CIMI nas ocupações das fazendas em Mato Grosso do Sul, conforme responderam quando questionados pelos deputados Pedro Kemp e Marquinhos Trad.

A CPI tenta investigar o CIMI (Conselho Indigenista Missionário), entidade conhecida por apoiar a causa indígena, por conta das ocupações das terras em MS. Para a presidente da comissão, deputada estadual Mara Caseira, da bancada ruralista, a participação de Carrasco e também o jornalista Nelson Barreto foi para subsidiar a CPI com informações teóricas. Porém, a realização de palestras ao invés de oitivas, foi duramente criticada pelo vice-presidente da CPI, Marquinhos Trad e pelo integrante, Pedro Kemp. Para ambos, a proposta da CPI, que tem custos ao erário, não foi atingida já que os convidados nada têm de concreto contra o CIMI.
“Não há em nosso regimento previsão de uma reunião como essa. Pessoas convidadas, palestras, audiência pública? No regimento interno está clara o que é função de uma CPI: Determinar diligências, ouvir indiciados, testemunhas, requisitar documentos de órgãos. O que é isso deputada? ”, dispara Kemp.
Para o deputado, as pessoas a serem ouvidas na CPI têm que ter vivência e experiência na realidade de Mato Grosso do Sul e não, convidados que desconhecem o dia a dia vivido pelos povos indígenas e pelo CIMI.

Conhecido por ser seguidor de Lyndon LaRouche (teórico da extrema direita norte-americana questionado por posturas nazistas), Carrasco fez um extenso discurso, de quase 4 horas, sobre o que seria uma teoria da conspiração, a qual o CIMI não teria intenções da integração dos indígenas à sociedade. E ainda, considera a demarcação de terras, a criação de reservas, segregação. Para o jornalista, o CIMI atua para tirar a autonomia da nação e abrir espaço para os interesses estrangeiros.

Kemp rebateu o seguidor de La Rouche e se posicionou dizendo que o Brasil é um país multiracial, multietnico, livre e que garante ao seu povo o direito de liberdade de expressão, que respeita a opinião do palestrante mexicano, mas que não concorda com a teoria dele. Também teve que defender o Brasil quando Carrasco questionou a legitimidade da Constituição de 1988 feita pelos parlamentares constituintes, “representantes legítimos do povo brasileiro, escolhidos através do voto”. (Nela, deu-se o prazo de 5 anos para que o País fizesse a demarcação. O que não foi feito).

Defensor da autonomia dos povos indígenas, Kemp afirmou que o palestrante não conhece a realidade enfrentada nas aldeias. Sobre o fato dos índios não estarem integrados, conforme disse o jornalista mexicano, o deputado contestou com a informação de que só em Mato Grosso do Sul há 800 indígenas nas universidades, mestres, doutores. O parlamentar afirmou que o CIMI não tenta barrar nada disso e que o jornalista está equivocado em comparar a realidade brasileira com a de outros países, onde a população em sua maioria é indígena.

Kemp também frisou para a presidente da CPI, Mara Caseiro e ao relator, Paulo Correia, o descumprimento do regimento já que cabe à CPI investigar por meio de oitivas, requisitar documentos, e não, levar palestrantes para a Assembleia Legislativa. Antes da “palestra”, o vice-presidente da CPI do CIMI, deputado Marquinhos Trad também já tinha alertado publicamente o descumprimento do regimento. Tanto ele como Kemp foram contra a palestra, mas foram vencidos pelos votos de Mara Caseiro, Onevam de Matos e Paulo Correia.

Carrasco preferiu não detalhar suas ligações com Lyndon LaRouche, disse que vive da venda de livros, tem editora e que não é financiado pelo agronegócio e que como mexicano, nasceu em um país indígena e não participa da CPI para prejudicar os índios. O relator Paulo Correia disse que concorda com a tese de Carrasco e abriu um parêntese ao repercutir a campanha em redes sociais de boicote à carne de MS enquanto o governo federal não resolver o problema.

“Quero saber quem é a mulher que disse aqui que a carne nossa tem sangue de crianças indígenas? Vou fazer uma moção de repúdio! ”, disparou.

Barreto por sua vez, falou bem menos, cerca de 1 hora, criticou a valorização das culturas indígenas e quilombolas. Segundo ele, há um movimento contra a cultura europeia. Ele também criticou a atuação da Igreja junto aos indígenas.

A próxima sessão da CPI do CIMI está prevista para o dia 21 de outubro, quarta-feira, quando deverão ser ouvidos o delegado da PF (Polícia Federal), Alcídio de Souza, o produtor rural de Dois Irmãos do Buriti, Ricardo Bacha, a esposa Jucimara Bacha, ruralista Vanth Vanni Filho, o antropólogo Edward Luz e o padre Ricardo Carlos, da UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).

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