18 de setembro de 2015

A Carta da Morte Guarani-Kaiowá? Despejo Não!

Fotos _ Aty Guasu

Relembramos da última palavra e conselho de líder Semião Fernandes Vilharva in memoriam, no dia 28 de agosto de 2015, um dia antes de Semião ser assassinado, ele disse: “sofremos muito, resistimos e hoje já retomamos a nossa terra Ñanderu Marangatu, custe o que custar daqui não vamos mais sair nunca, se precisar morrer pela terra vamos morrer lutando, vamos ficar em nosso tekoha vivo ou morto, essa terra é nossa” ATY GUASU
Aty Guasu 
6 h · Editado 
 
PRÓPRIA JUSTIÇA FEDERAL-MS AMPLIA, INCITA E AUTORIZA GENOCÍDIO, MASSACRE E VIOLÊNCIA CONTRA OS POVOS INDÍGENAS NO MS-BRASIL. 
 
Os líderes de Aty Guasu do grande povo Guarani e Kaiowá recebem e divulgam a carta de tekoha Ñanderu Marangatu-Antônio João-MS diante da ordem de despejo e massacre Guarani e Kaiowa autorizado pela justiça federal de Ponta Porã-MS. 

Todos os líderes de 50 mil indígenas preocupados se mobilizam para apoiar a resistência de tekoha Ñanderu Marangatu.

Compartilhe essa carta que segue:


A carta de mais de 1500 indígenas Guarani e Kaiowa resistentes de tekoha Ñanderu Marangatu-Antonio João-MS-Brasil ao Presidente da República do Brasil DILMA ROUSSEFF, Presidente do Supremo Tribunal Federal Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, a todas sociedades nacionais e internacionais entre outras.


Nós 1500 comunidades e guerreiros (as) Guarani e Kaiowá reocupantes do tekoha Ñanderu Marangatu desde 22 de agosto de 2015 vimos por meio desta carta reafirmar a nossa decisão de reocupar definitivamente o nosso tekoha Ñanderu Marangatu. A nossa decisão definitiva é e será lutar, resistir e morrer todos pela nossa terra. De nossa terra não saímos mais nem vivos e nem mortos. Vamos morrer lutando pela nossa terra, não saímos mais de nossa terra Ñanderu Marangatu, isso já é decidido, já avisamos a todas as autoridades.


Hoje relembramos da última palavra e conselho de líder Semião Fernandes Vilharva in memoriam, no dia 28 de agosto de 2015, um dia antes de Semião ser assassinado, ele disse: “sofremos muito, resistimos e hoje já retomamos a nossa terra Ñanderu Marangatu, custe o que custar daqui não vamos mais sair nunca, se precisar morrer pela terra vamos morrer lutando”, “vamos ficar em nosso tekoha vivo ou morto”, “essa terra é nossa”.


Um dia depois no dia 29 de agosto de 2015, nós fomos atacados, massacrados e o Semião foi assassinado pelos fazendeiros armados e as nossas crianças ficaram feridas, mas não recuamos, não saímos de nossa tekoha, resistimos aqui. Todos feridos e massacrados estamos aqui resistindo. Aqui no tekoha Ñanderu Marangatu decidimos em lutar, resistir e morrer todos aqui pela nossa terra. Essa nossa decisão definitiva.

Foto de Aty Guasu.Sabemos bem que a nossa terra Marangatu já foi demarcada tudo, já homologada em 2005 pelo presidente da República do Brasil, mesmo assim fomos atacados, massacrados e expulsos de nossa terra, no dia 15 de dezembro de 2005, naquela época não resistimos, saímos expulsos e passamos aguardar a decisão da justiça do Brasil sofrendo na beira da estrada onde morreram as nossas crianças.

No dia 24/12/2005, Dorvalino Rocha foi assassinado pelos fazendeiros. Passaram 10 anos não foi devolvida a nossa terra para nós pela justiça e governo do Brasil. Aguardamos mais de 10 anos. Ao longo de 10 anos as pessoas idosos (as) e crianças morreram de doenças, miséria e de fome na beira da estrada. 

Diante disso, pela última vez, no começo de agosto fomos à Brasília-DF para avisar ao Governo Federal e Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que o povo Guarani e Kaiowa não irá mais esperar sofrendo e morrendo na beira da estrada, mas avisamos ao STF e Governo que vamos retomar e recuperar a nossa terra Ñanderu Marangatu e retomar a nossa terra e morrer pela nossa terra, e não sairemos mais de nossa terra.

Assim é nossa decisão definitiva, sem medo, vamos todos pela nossa terra, aqui no tekoha queremos ser enterrados. Não mudamos a nossa decisão, já reocupamos a nossa terra, já resistimos, já morremos aqui em nossa terra, e aqui vamos continuar resistindo e morrendo. Se voltarmos a beira da estrada lá morreremos igual, por isso decidimos em resistir e morrer aqui lutando pela nossa terra. 

Todos sabem bem que a justiça federal ignora sempre os nossos direitos constitucionais alimentando a injustiça e violência contra o povo indígena Guarani e Kaiowa. Mais uma vez, no dia 16 de setembro de 2015, a justiça Federal de Ponta Porã- Mato Grosso do Sul, acabou de decretar o genocídio e violências contra as nossas vidas.

A justiça federal amplia e autoriza o massacre e violências irreparáveis contra os nós indígenas apoiando as ações dos fazendeiros assassinos. Recebemos aviso que a justiça federal vai mandar atacar e massacrar também nós. Já fomos atacados a tiros e massacrados pelos fazendeiros e agora seremos atacados a tiros massacrados pela própria justiça federal de Ponta Porã-MS.

Frente ao anúncio oficial de massacre, expulsão e genocídio pela justiça federal decidimos em resistir e morrer massacrado pelo governo e justiça federal aqui no tekoha Ñanderu Marangatu-Antonio João-MS. Vamos resistir e morrer todos pela nossa terra. Essa é nossa decisão definitiva.

Comunicamos a todas as sociedades e imprensas nacionais e internacionais para acompanhar o ataque e massacre indígenas autorizados pela própria justiça federal. Por fim relembramos que aqui no Mato Grosso do Sul nós indígenas fomos atacados, expulso e massacrados tanto pelos pistoleiros das fazendas quanto pela justiça federal.

Diante disso nós povos indígenas resistimos e morremos pelos pedaços de tekoha nossas terras tradicionais. Pedimos a todos os povos indígenas para apoiar a nossa resistência no tekoha Ñanderu Marangatu-MS. Nós já estamos aqui lutando e resistindo e decidimos em morrer lutando pela nossa terra. 

Queremos que justiça federal enterre todos juntos nos aqui perto do cemitério de Semião Vilharva, é nosso último pedido à justiça do Brasil. Estamos aqui 1500 guerreiros (as) prontos para morrer lutando pela nossa terra.

Atenciosamente,

Tekoha Ñanderu Marangatu, 17 de setembro de 2015
Assinamos nós 1500 comunidades Guarani e Kaiowa do tekoha Ñanderu Marangatu

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