11 de maio de 2015

Posto com equipamentos novos é fechado e índios ficam sem médicos


Unidade foi fechada há mais de dois anos e tribos ficaram
sem atendimento.
Estudantes organizam mutirões semestrais para tentar ajudar os indígenas.


Mariane Rossi Do G1 Santos


Um posto médico criado para atender indígenas em Mongaguá, no litoral de São Paulo, está abandonado há mais de dois anos. Dentro do local, há macas e equipamentos praticamente novos, além de mesas, cadeiras, e carteirinhas do SUS. De acordo com o cacique responsável pelo local, pelo menos 200 índios, de duas aldeias diferentes, deveriam ser atendidos no local.
Em meados de 2014, Uma moradora de Mongaguá pediu ajuda a um dos professores da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes) e contou que os índios tupi e guarani da aldeia Itaóca estavam sem atendimento médico. Na época, Rachel Hernandes Marques era uma das estudantes do 4º ano de Odontologia. Ela e os colegas de faculdade, na companhia do professor Marcelo Quintela, foram até a aldeia conhecer a realidade dos índios.
 
Posto tem macas de dentista novas (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)
 

 

 
 





 
 
 
Posto tem macas de dentista novas (Foto: Raquel
Marques/Arquivo Pessoal)
Macas e equipamentos para atendimento médico dentro do posto fechado (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)
 
Macas e equipamentos para atendimento no posto
(Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)
 
Após a primeira visita, ela voltou à aldeia outra vez e constatou a situação do posto médico, fechado há dois anos, segundo o cacique da aldeia. “Tem uma cadeira de dentista nova. Tinha umas carteirinhas do SUS lá. Ele (cacique) falou que havia recebido uma visita oficial que avisou que a estrutura da casa estava ruim e tinha que ser demolida”, conta ela. A estudante registrou a situação em fotos.

Cacique Verá Danilo cobra uma solução para o problema (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)
 
Cacique Verá Danilo cobra uma solução para o
problema (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)
 
O cacique Verá Danilo explica que no local funcionava um posto de saúde. A casa fica entre as duas aldeias, dos índios tupi e guarani. “Parou de funcionar há mais de dois anos porque o prédio estava desabando. Está com rachaduras, tomadas quebradas, sujeira. Já estiveram aqui engenheiros falando que vão fazer um novo projeto, mas até agora nada”, diz ele.
De acordo com o cacique, são cerca de 200 índios em Mongaguá, somando os integrantes das duas aldeias. “Tem uma equipe de saúde que é composta por sete pessoas que atende uma vez por semana a nossa aldeia e que também atende várias outras aldeias da Baixada Santista. Não é o suficiente. Não está tendo atendimento adequado porque deveria ter atendimento naquele posto”, afirmou Danilo.
Ao ver a situação das famílias indígenas, professores e estudantes da Unimes se mobilizaram e fizeram o 1º Mutirão Indígena. Rachel foi até a aldeia e selecionou 25 índios que precisariam de atendimento odontológico com maior urgência. “Eles vieram de ônibus. Todos foram encaminhados para o escovódromo, com orientação dos alunos do 1º ano para fazer a escovação, higiene dental e começaram a tratar. Eles foram almoçar e a reitoria forneceu alimentação. Depois do almoço, descansaram um pouco, retornaram para a clínica e continuaram o atendimento”, conta a professora universitária e dentista Luciene Prats.

Raquel analisa dos dentes de um indígena (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)Raquel analisa dos dentes de um indígena (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)
 
Segundo o dentista e professor universitário Antonio Carlos Tavares, os índios fizeram vários tipos de tratamento como canal, extrações, restaurações e consertos de próteses. E, além deste mutirão, haverá a necessidade de outros encontros. De acordo com ele, se houvesse um atendimento frequente muitos dos problemas encontrados poderiam ser evitados.
“Se tivesse um posto fixo, fornecendo escova, fio ou até uma higienista, que pudesse fazer uma orientação corriqueiramente, seria melhor. A remoção básica da placa não deixa que outros problemas aconteçam, como evolução da cárie e perda de dentes. Se tivesse um posto, fazendo o atendimento, ou controlando, com certeza não teríamos o que tivemos aqui”, disse. O próximo mutirão acontecerá no dia 17 de junho.

Professor Antônio Carlos e os alunos no Mutirão Indígena (Foto: Antonio Carlos Tavares/Arquivo Pessoal)Professor Antônio Carlos e os alunos no Mutirão Indígena (Foto: Antonio Carlos Tavares/Arquivo Pessoal)
 
Enquanto isso, os índios ficam esperam que as autoridades resolvam a questão do posto médico abandonado e que o local possa voltar a funcionar. “É isso que estamos cobrando. Mas até agora nada”, reclama o cacique.
Em nota, a Prefeitura de Mongaguá disse que a unidade em questão não pertence à prefeitura e sim a FUNASA. Segundo a Prefeitura os indígenas podem ser atendidos nas Unidades de Saúde da Família, sendo que as unidades mais próximas da Aldeia são Unidade de Saúde da Família do Jussara e Unidade de Saúde da Família do Jardim Praia Grande. Já a FUNASA informou que informou que desde 2010 não responde pela saúde indígena. Segundo eles, o órgão competente é a Secretaria Especial de Saúde Indígena, ligada ao Ministério da Saúde.
Em contato com o G1, a Sesai disse a população é regularmente atendida por uma equipe multidisciplinar do Distrito Sanitário Especial Indígena no Litoral Sul. A equipe atua em todas as aldeias, promovendo ações de imunização, saúde bucal, assistência farmacêutica e saúde da mulher e da criança. No entanto, para melhoria da infraestrutura aos indígenas da aldeia Itaoca Guarani, está sendo elaborando um projeto para reforma da unidade de saúde, com aquisição de equipamentos e adequação aos padrões. Ainda segundo a Sesai, ainda não há prazo para isso já que posto nunca funcionou. A equipe irá até lá para ver as condições e definir um cronograma para adequação das instalações.

Uma das casas da aldeia indígena em Mongaguá (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)Uma das casas da aldeia indígena em Mongaguá (Foto: Raquel Marques/Arquivo Pessoal)
 
 
 
 

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