11 de abril de 2015

Jovem Guarani-Kaiowá de 14 anos apela pela demarcação do Tekoha Guaiviry

Jhonn Nara é uma jovem de uma tribo do Mato Grosso do Sul. No relato abaixo conta como é a educação em sua aldeia e sobre a importância de preservar a história de seus antepassados


Alessandra Giovanna





Moro na Tekoha Guaiviry, comunidade indígena em que vivem 300 pessoas, em Amambai, a 351 quilômetros de Campo Grande. Na língua do meu povo, tekoha é o território sagrado onde nossos ancestrais foram enterrados e podemos viver segundo nossas tradições.


Me considero uma liderança jovem. Meu papel é defender a cultura guarani kaiowá e envolver crianças e adolescentes da aldeia. Toda semana, nos reunimos para discutir como garantir nossos direitos. Também represento a comunidade no Aty Guasu, a grande assembleia política dos povos guarani e kaiowá.

Ter acesso a uma Educação Indígena é muito importante para que o saber dos antepassados permaneça vivo na memória e no cotidiano da aldeia. É triste quando encontramos alguém que não sabe a história do seu povo.

Nossa escola é muito diferente da dos brancos. Ela funciona dentro da casa de reza. Iniciamos o dia com cânticos, rezas e danças sagradas para espantar as coisas ruins. Isso nos ajuda a ter mais fé e sabedoria e a estar mais próximos uns dos outros. Só depois começam as aulas.

Nas de Ciências, aprendemos a fazer remédios caseiros; nas de Educação Física, tiro ao alvo e arco e flecha. Em História, o professor ensina que a descoberta do Brasil não foi uma conquista, mas uma invasão dos europeus - nós trocamos as palavras dos livros dos brancos. Estudamos três idiomas: guarani, espanhol e português, pois vivemos numa região de fronteira.

Usamos apenas um caderno durante todo ano letivo, porque não temos muitos recursos para comprar materiais escolares. Sofremos muitas ameaças de ser expulsos da nossa terra. Mas a gente está na luta. Me inspiro no meu tio Genito Gomes, uma liderança indígena, e nos meus avós: a nhandesi (líder espiritual) Odúlia Mendes e o cacique Nísio Gomes.
Em 2013, fui a Brasília para o encontro de jovens indígenas com o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente. Em 2014, participei do Júri Internacional do Prêmio das Crianças do Mundo, na Suécia, representando os indígenas da América Latina.

O recado da aldeia para as autoridades do Brasil e do mundo é este: queremos a demarcação de nossas terras. Queremos um lugar para construir nossas escolas, um lugar para praticar esportes e ter direito ao lazer. Estamos perdendo muitos jovens porque não temos isso.

*JHONN NARA, 14 anos, é aluna de escola indígena e líder jovem guarani kaiowá. Depoimento a Christiane Sampaio. Ler matéria em Planeta Sustentável AQUI!

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