9 de janeiro de 2015

Reinaldo levará índios a Brasília pelo fim da briga por terras

Governador quer aumentar produtividade rural nas aldeias e inserir índios em festivais culturais

Diário Digital


Gestão de Reinaldo é a primeira a criar uma estrutura governamental para
tratar da questão indígena (Foto: Victor Chileno)

Demonstrando disposição em lidar com uma das questões mais delicadas de Mato Grosso do Sul, o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) levará índios a Brasília como forma de pressionar pelo fim da disputa por terras entre indígenas e fazendeiros. Ele está tentando marcar uma agenda com o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. “Não dá mais para empurrar essa questão”, disse o governador na tarde desta quinta-feira, 8 de janeiro, na sua primeira reunião com lideranças indígenas, realizada na governadoria.
Para Reinaldo, a questão é complexa porque, no passado, o governo federal distribuiu a brancos títulos de terras que pertenciam a indígenas. Agora, o tucano está disposto a unir indígenas, fazendeiros e representantes do governo para exigir uma solução. A iniciativa de incluir os índios no diálogo com o governo federal foi elogiada. Irmão de Oziel Gabriel morto a tiro durante desocupação da Polícia Federal na Fazenda Buruti, em Sidrolândia, em 2013, o terena Elizur Gabriel, 43 anos, acredita que a união pode surtir efeitos.
“Tenho esperanças de que podem surgir bons frutos. Só não podemos ficar parados, temendo novos acontecimentos trágicos como aquele que tirou a vida do meu irmão e até hoje não foi esclarecido”, disse ele. A PF até hoje não chegou a uma conclusão sobre quem atirou em Oziel.
A área da fazenda Buruti e outras 30 propriedades são reivindicadas por índios como forma de ampliar a aldeia indígena Buriti. O governo já fez uma proposta de compra, mas os ruralistas não aceitam os valores oferecidos. Dessa forma, a tensão no local ainda não teve fim. “Em Brasília, vamos cobrar esta questão da Buriti. Não dá mais para esperar pela boa vontade (do governo)”, disse o governador.
Na gestão Reinaldo, os índios estarão inseridos no governo. Cada etnia poderá indicar um representante para o conselho que funcionará na Subsecretaria de Assuntos Indígenas, subordinada à Secretaria de Assistência Social, chefiada pela vice-governadora Roseane Modesto. Com índios por perto, o governo espera ouvi-los sobre suas reivindicações nas áreas de saúde, educação, segurança pública e outras.
Nesta primeira reunião, Reinaldo inclusive já apresentou sugestões melhorar as condições nas aldeias e ampliar a participação de indígenas em eventos patrocinados pelo Estado. O governador propôs, por exemplo, aumentar a produção rural nas aldeias como forma de atender a demanda interna por alimentos. “Cerca de 80% das frutas e verduras que se consomem no Estado vem de fora. Será que não conseguimos produzir nas aldeias?” Outra ideia é inserir apresentações indígenas em eventos culturais como o Festival da América do Sul.
A quantidade de índios que vivem no Estado é uma dúvida entre as próprias comunidades indígenas. O Conselho Aty Guassu divulga o número de 75 mil. Porém, Agnaldo Terena, sub-coordenador de assistência indígena de Campo Grande, sugeriu ao governador que faça um censo social indígena no Estado. “Peço ainda apoio para revitalizar nossa feira indígena”, clamou.
Presente ao evento, o procurador do Ministério Público Federal (MPF) Emerson Kalif disse que o governo acerta ao tratar diretamente com os índios, porém, sugeriu que o governo contrate um antropólogo para ajudar no diálogo com as comunidades. O procurador cobrou ainda que o governo do Estado leve a segurança pública às aldeias indígenas. Ele mencionou que o MPF chegou a mover ações solicitando que o Estado leve policiamento às aldeias.
A reunião em Brasília ainda não tem data marcada, porém, o governador prometeu divulgar publicamente a agenda assim que ela for confirmada.

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