31 de julho de 2014

“Atiram sobre nossas cabeças. Pá, pá, pá, pá. A gente fica com medo, mas reza e não sai”, diz Kaiowá em área retomada

Carlito Kaiowá


“Plantem meus ossos aqui”  


CIMI

Tão logo retomaram mais um naco de terra tradicional do tekoha - lugar onde se é -  Passo Piraju, nesta última segunda-feira, 28, o acampamento de oito famílias Kaiowá erguido no local passou a ser atacado por homens armados. “Atiram sobre nossas cabeças. Pá, pá, pá, pá. A gente fica com medo, mas reza e não sai”, diz um dos indígenas presentes na área reocupada. No Mato Grosso do Sul, este é o “olá!” de fazendeiros antes do início de qualquer mesa de diálogo. 
Lideranças indígenas da Aty Guasu, a grande assembleia Guarani Kaiowá, pedem proteção aos Kaiowá de Passo Piraju. Com a retomada desta segunda, os Kaiowá ganham um pouco mais de espaço - não sabem ao certo o tamanho da terra recuperada - e inserem mais um episódio na história de uma luta emblemática pela terra Guarani Kaiowá travada numa das regiões mais violentas do estado.


Passo Piraju fica às margens do rio Dourados, entre os municípios de Dourados e Laguna Carapã, região de Porto Kambira. Os Kaiowá ocupavam cerca de 20 hectares, retomados a partir de 2004, e mantidos com a típica resiliência do povo entre fazendas de soja e cana, tiros de pistoleiros, criminalização de lideranças, além de sucessivas tentativas de reintegração de posse - a última teve um desfecho positivo aos Kaiowá no ano passado.   

A retomada é apenas mais um importante passo entre tantos que precisam ser dados para que os Kaiowá voltem a viver no território de onde foram expulsos na primeira metade do século 20. Fazendeiros incentivados pelo governo federal e apoiados pelo Serviço de Proteção ao Índio (SPI) chegaram em Passo Piraju, conforme o relato dos mais velhos, e disseram para os Kaiowá irem embora da fazenda. O tempo passou e a reparação do erro cometido pelo Estado está longe de se efetivar pelo cumprimento dos termos da Constituição de 1988. 

Se por um lado o ministro da Justiça José Eduardo Cardozo determinou a paralisação das demarcações de terras indígenas, por outro também não cumpre o Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), firmado junto ao Ministério Público Federal (MPF) em 2007, para que fossem constituídos grupos técnicos com foco na identificação e delimitação das terras indígenas Guarani e Kaiowá no cone sul. 

O Relatório Circunstanciado de Identificação do tekoha Passo Piraju foi entregue pelo antropólogo responsável à Funai em outubro de 2011. O estudo estava no escopo das ações do Grupo de Trabalho (GT) Dourados-Amambaipeguá, um dos seis GT`s criado pelo órgão indigenista do Estado em 2008 por força do TAC. Porém, nenhum foi capaz de concluir os procedimentos apesar das inúmeras promessas feitas aos indígenas. 

“Plantem meus ossos aqui”  

Passo Piraju possui posto de saúde, escola, poço artesiano, roças e criação de animais. Em diversidade, os kaiowá produzem mais culturas do que os monocultivos de cana e soja do entorno. Se para o governo federal e agronegócio, para a Bolsa de Chicago ou para a China uma terra indígena é a representação do atraso econômico, aos Kaiowá é a certeza de não voltar para a situação de dez anos atrás quando viviam sem ter o que comer às margens da rodovia. Assim ainda vivem milhares de Guarani e Kaiowá pelo Mato Grosso do Sul afora: cercados por bilhões de dólares em soja, cana e gado sugados da terra ancestral, mas sem as famílias terem o que comer ou um pedaço de terra para plantar.

Durante ameaça de reintegração de posse em outubro de 2012, Carlito Kaiowá (na foto ao lado), liderança de Passo Piraju, declarou: “Se a lei vai ter o poder de tirar de nós o Passo Piraju, eu quero que a lei retire só as minhas crianças. Eu quero deixar a minha carne, o meu osso em cima dessa terra aqui. Eu vou deixar. Podem vir fazer o despejo. Só que daqui eu não saio. Eu quero que a minha morte, que minha catacumba seja no rio. Quero que minhas crianças, quando elas voltarem de novo, que elas cacem o meu osso para plantar de novo na aldeia. Eu quero que me plante na aldeia Passo Piraju, porque aqui eu nasci, daqui eu fui expulso, aqui que eu vou poiá minha catacumba”. 



LÁDIO VERON: Assumi um compromisso e vou levar até o fim!"


Imagem reproduzida do Linha de Frente

Por Tereza Amaral com Flávio Bittencourt,

Natanael Caceres, Talita Veron

O Candidato a deputado federal pelo PSOL, cacique Ládio Veron, é muito mais do que um sobrevivente do conflito fundiário no MS, envolvendo latifundiários e indígenas.
 Ele é um guerreiro!

Em sua página numa rede social, o chefe indígena da Aldeia Tkwara escreveu: "Estamos enfrentando mais essa luta somente com a força da espiritualidade do nosso povo; assumi um compromisso e vou levar até o fim."


Assista ao vídeo com entrevista de Ládio Veron AQUI!

30 de julho de 2014

Justiça determina reintegração de posse contra comunidade Terena de Pillad Rebuá e indígenas garantem resistência

Com o fim das ações do governo para maquiar as contradições do país durante a Copa do Mundo, um fantasma volta a assombrar os povos indígenas - o fantasma das reintegrações de posse. Menos de um mês depois da final do campeonato mundial de seleções, a 4a Vara Federal de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, determinou a reintegração de posse de área retomada pelo povo Terena na Terra Indígena Pillad Rebuá, município de Miranda, região do Pantanal. Ainda não há um dia definido para a reintegração.
A defesa da comunidade irá recorrer da determinação. Os indígenas, por sua vez, afirmam que não desistirão do território tradicional. “Não estamos invadindo nada que não nos pertence. O que fizemos e manteremos é a ocupação de nossas terras. Vamos lutar até o fim”, declara Inezita Terena. Pillad teve o primeiro registro de reconhecimento pelo Estado em 1904. Um processo de demarcação teve início em 1950, mas não seguiu. “Sempre estivemos aqui e daqui fomos expulsos. Jamais que queremos algo que não seja de nosso povo, de nossos ancestrais”, diz Inezita.
Em Pillad, os terena plantam em roças espalhadas por toda a área. Os 2,2 mil indígenas de Pillad, até as últimas retomadas de outubro de 2013, viviam em 94 hectares, divididos em duas aldeias, Moreira e Passarinho. As retomadas ocorreram em duas propriedades localizadas dentro de Pillad. A ação foi também uma forma de exigir que fosse instituído o Grupo de Trabalho (GT) para finalizar o processo de identificação e demarcação da terra indígena, cuja dimensão apontada nos laudos iniciais da Fundação Nacional do Índio (Funai) é de 10.400 hectares.
Inezita explica que a Justiça Federal convocou os terena de Pillad para uma reunião na próxima quinta-feira com os fazendeiros que se dizem proprietários da área incidente à terra indígena. “Sempre optamos pelo diálogo. Várias vezes tentamos explicar para os fazendeiros que essa terra é do povo Terena, mas sempre responderam com violência. Pensamos que o caso é de demarcar nossas terras”, defende Inezita. O Mato Grosso do Sul, porém, é um dos estados mais afetados pela política indigenista do governo federal de paralisação dos procedimentos de demarcações. 
Como consequência, a violência tem pautado a já dura vida de milhares de indígenas que buscam pequenas porções de terras em áreas tradicionais invadidas por fazendas. Em 10 de novembro do ano passado, cerca de 300 indígenas Terena foram atacados por homens armados em caminhonetes depois de terem ocupado a fazenda. Cápsulas de 9mm foram encontradas no local e entregues à Polícia Federal. Na sede da propriedade foram encontrados diversos buracos de bala no telhado, paredes e em um bebedouro.
Dois dias depois, fazendeiros expulsaram à tiros indígenas que haviam retomado a área de uma outra fazenda que incide sobre a área reivindicada como terra indígena Pillad Rebuá. Um trator pertencente à comunidade também foi incendiado. Ninguém ficou ferido.
Incêndios e atentados
Contra o povo Terena, já são inúmeros os casos de ataques, incêndios e ameaças. O indígena Paulino Terena, liderança de Pillad Rebuá, faz parte do Programa de Defensores de Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. Mesmo assim, acabou baleado na perna direita depois que homens não identificados atacaram a tiros, na madrugada de uma segunda-feita, dia 19 de maio deste ano, a aldeia e a casa onde ele vive. Este foi o terceiro atentado sofrido pelo indígena em menos de um ano.
No dia 6 de dezembro do ano passado, quatro homens encapuzados atearam fogo no carro do indígena depois de emboscada. Tentaram atear fogo em Paulino, que fugiu para o mato entre os tiros dos pistoleiros. Três dias depois a casa do indígena foi arrombada.
Paulino denunciou à Polícia, Funai e Ministério Público Federal (MPF) as sucessivas ameaças de morte que vinha recebendo. Durante a 4ª. Assembleia do Povo Terena, no final do ano passado, a comunidade de Pillad entregou uma carta ao Conselho Terena relatando que "[fazendeiros] querem a cabeça dele [Paulino] como troféu". 
A violência contra o povo Terena, em Miranda, é reflexo da luta dos indígenas por suas terras tradicionais. Em 4 de junho de 2011, um ônibus que transportava cerca de 30 estudantes terena, a maioria entre 15 e 17 anos, foi atacado com pedras e coquetéis molotov. Seis pessoas, incluindo o motorista, sofreram queimaduras. Quatro foram internadas em estado grave.
A estudante Lurdesvoni Pires, de 28 anos, faleceu, vítima de ferimentos causados pelas queimaduras. Na época, lideranças terena creditaram o ataque a proprietários rurais da região, no contexto da disputa pela demarcação das terras indígenas.  No dia 28 de novembro de 2012, também em Miranda, um ônibus vazio que realizava transporte de alunos terena foi incendiado. Ele fazia o trajeto pela terra indígena Cachoeirinha, também alvo de conflito.

28 de julho de 2014

YSANI KALAPALO APOIA CANDIDATOS INDÍGENAS LÁDIO VERON E LILI TERENA

Ysani Kalapalo


#Queremos Indígena Brasileiro no Parlamento! #Conheça dois grandes candidatos

#Indígenas que merecem seu voto e sua solidariedade




Cacique Ladio Veron 5000

Cargo em disputa: Deputado Federal
Mato Grosso do Sul
PSOL / MS
Cacique Ladio Veron

Cacique Ladio Veron é candidato a Deputado Federal por Mato Grosso do Sul pelo Partido Socialismo e Liberdade.

Dados de Cacique Ladio Veron

Nome: Ladio Veron Cavalheiro
Idade: 47 anos (13/01/1967)
Naturalidade: Ms-Juti
Estado Civil: Casado(a)
Ocupação: Sociólogo
Escolaridade: Superior incompleto

Candidato a Deputado Federal Cacique Ladio Veron 5000

Número: 5000
Nome para urna: Cacique Ladio Veron
Cargo a que concorre: Deputado Federal
Estado: Mato Grosso do Sul
Partido: Partido Socialismo e Liberdade
Coligação: PSOL



Lili Terena 43152

Cargo em disputa: Deputada Distrital
Distrito Federal
PV / DF
Lili Terena
Lili Terena é candidata a Deputada Distrital do Distrito Federal peloPartido Verde.

Dados de Lili Terena

Nome: Eliane Mara Lili Matsuura
Idade: 54 anos (15/02/1960)
Naturalidade: Go-Quirinópolis
Estado Civil: Casado(a)
Ocupação: Outros
Escolaridade: Ensino Fundamental incompleto

Candidata a Deputada Distrital Lili Terena 43152

Número: 43152
Nome para urna: Lili Terena
Cargo a que concorre: Deputada Distrital
Estado: Distrito Federal
Partido: Partido Verde
Coligação: RESPEITO POR BRASÍLIA PRP/PV (PRP / PV)

O povo Guarani Kaiowá - Da terra sem mal à busca do trabalho sem mal

Reprodução


Do Blog Aulas de Yorubá

Acabaram com o seu hábitat que era uma extensão de seus corpos. Em todo o estado do Mato Grosso do Sul a mata foi devastada como se tratasse de um inimigo e milhares de índios perambulam, agora, com suas raízes no ar. Os que hoje mal vivem, encurralados pela pobreza e desesperança, engrossam as listas dos trabalhadores das fazendas de gado, das carvoarias vegetais ou do imenso canavial, onde as denúncias de trabalho escravo são notícia permanente. Outros vendem sua força de trabalho nos frigoríficos avícolas, lugares de extrema exploração onde a dignidade é cortada em pedacinhos como as asinhas dos frangos.



“São reconhecidos aos índios sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, correspondendo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”.
(Constituição da República Federativa do Brasil, Art. 231)



Assista VÍDEO com participação de Ládio Veron


A mãe terra, a mãe Dilma…

E o capitalismo parido de um furúnculo

O povo Guarani Kaiowá soube transitar, durante séculos, por boa parte do atual estado do Mato Grosso do Sul, centro oeste do Brasil, fronteira com o Paraguai e a Bolívia. Uma terra sem limites, um presente do Grande Pai Ñande Ru.

Sua “Casa Grande”, sua “Tekoha”, era um mar de floresta. Ali confluíam muitas das bondades da terra ideal” que a cultura e a espiritualidade guarani denominam a Terra sem Mal.

Em janeiro do ano passado a presidenta Dilma Rousseff recebeu uma carta do povo Guarani Kaiowá a qual manifestava: “Que bom que a senhora assumiu a presidência do Brasil. É a primeira mãe que assume essa responsabilidade. Mas nós, Guarani Kaiowá, queremos lembrar que para nós a primeira mãe é a mãe terra, da qual fazemos parte e que nos sustenta há milhares de anos.

Presidenta Dilma, roubaram nossa mãe. A maltrataram, sangraram suas veias, rasgaram sua pele, quebraram seus ossos... rios, peixes, árvores, animais e aves... tudo foi sacrificado em nome do que chamam de progresso. Para nós, isso é destruição, é matança, é crueldade.

Sem nossa mãe terra sagrada, nós também estamos morrendo aos poucos. Por isso estamos fazendo esse apelo no começo de seu governo. Devolvam nossas condições de vida que são nossos tekohá, nossos terras tradicionais.

Não estamos pedindo nada demais, apenas os nossos direitos que estão nas leis do Brasil e internacionais.(...)”

O povo Guarani Kaiowá, órfão de mata, ainda aguarda a resposta da mãeDilma.

O primeiro desembarque

Da Casa Grande à Grande Coisa

No século XVI chegaram os portugueses marchando em franca contramão da cosmovisão desenvolvida pelas populações locais. A partir de sua visão eurocentrista e mercantilista, os conquistadores não viram o  Novo Mundo como uma “Casa Grande”,  mas sim, como uma Grande Coisacom preço, entretanto sem valor.

Mal pisaram na areia da praia e já se proclamaram donos dessas terras, um presente da Igreja e dos Reis de Portugal e Espanha. Assim definiam o Tratado de Tordesilhas e a Bula do Papa Alejandro VI: o mais poderoso tabelião da época.

Com tamanha autorização e bênção, a forma exterminadora de agir dos portugueses e de seus mercenários não conhecerá limites. A espada, a cruz e a cobiça -a Santa Trindade do saqueio- acometerão sem piedade contra os povos originários, violentando sua forma de vida, sua cultura e espiritualidade.

Para a igreja, os índios eram selvagens sem alma e, para o nascente capitalismo, escravos sem salvação. Coisas susceptíveis de apropriação, de ser exploradas sem misericórdia e sem ameaça de excomunhão para os exploradores.

Coisas que tinham uma história própria, mas pouco importa a história das coisas.

O último desembarque

As transnacionais: os novos amos  

Em português Mato Grosso significa “mato alto, espesso, quase impenetrável” e vem da palavra guarani kaaguazú (mato grande). Como afirma a carta para a Mãe Dilma, durante milhares de anos natureza e índios fizeram parte de um mesmo corpo. Agora não.

O desmatamento em Mato Grosso do Sul tem suas origens no final do século XIX, de mãos dadas com a exploração intensiva de erva mate. Entre 1920 e 1960 a depredação ambiental foi catapultada pela indústria madeireira, e de 1960 a 1970 pela pecuária.

Em inícios dos anos 80, a superfície destinada à cana de açúcar avançou freneticamente, e nos 90 irrompeu a soja: a idolatrada deusa do agronegócio e carranca de proa das transnacionais Monsanto, Bunge e Cargill, cobrindo, hoje, 2,1 milhões de hectares no Mato Grosso do Sul.

Na mais absoluta impunidade, as grandes fazendas e a monocultura foram invadindo e devastando as terras dos povos indígenas; enquanto isso, os governos, um após outro, exibiram idêntica capacidade de se fazer de distraídos diante desta gigantesca usurpação.

No Brasil vivem 190 milhões de pessoas, onde 1 por cento detém o poder sobre 46 por cento das terras cultiváveis, e daí para mais, invadindo terras, atropelando a selva, e até mesmo o Parlamento, através da bancada ruralista.

Sediciosa, abandonada em um canto, a Reforma Agrária sofre de paralisia crônica.

A selva mãe

E o big brother do etanol

Se hoje o cenário é dramático para os povos indígenas e para a agricultura camponesa – outra vítima atropelada pela agricultura industrial– as perspectivas futuras se mostram desoladoras.

O fascínio reinante pelos agrocombustíveis e sua entusiasta promoção realizada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que converteu esse carburante na linha de frente de sua política exterior, agravarão a situação.

O etanol - o combustível do século XXI segundo Lula, o biocombustível como foi batizado pela grande indústria – precisa de escala, e no Mato Grosso do Sul o canavial já ocupa uns 700 mil hectares, ameaçando expandir-se ainda mais.

Avança como um tsunami verde que ninguém detém e, como bem disseIara Tatiana Bonin, nesse cenário os povos indígenas são um estorvo. São vistos como ervas daninhas” que devem ser erradicadas dos “jardins do latifúndio” para deixarem o caminho livre para os planos dos “jardineiros do progresso’.

O cacique Ládio Verón, filho de Marco Verón assassinado em 2003, denunciou: “Nossas terras em Mato Grosso do Sul estão passando por um processo de devastação total.

Lá, um pé de cana vale mais que um índio, mais que uma criança indígena, e uma vaca vale mais que toda uma comunidade”.

Um verdadeiro (Eco)Genocídio

As duas caras de uma mesma moeda

Em 2004, a soja no Brasil tinha provocado o desmatamento de 21 milhões de hectares. Em Mato Grosso do Sul a monocultura da soja ocupa 2,1 milhões de hectares.

O avanço desenfreado da superfície destinada ao agrobussines, as terras para pecuária das fazendas, bem como a desídia do governo federal, têm provocado a eliminação de 80 por cento da mata nativa neste estado.

Em Mato Grosso do Sul, a antiga Terra sem Mal, a Terra de todos, onde 1 por cento da população possui 35 por cento da terra (2004), enquanto que os povos indígenas, desnudados de terra, sobrevivem jogados em uma brecha esquecida, entre a monocultura e a pecuária.

De acordo com Egon Heck, coordenador do Conselho Indigenista Missionário (CIMI),   “A invasão incessante das terras indígenas por parte dos fazendeiros e agricultores está dizimando as tribos nativas, e isso equivale a um genocídio. Está em jogo a sobrevivência de muitos dos 60 mil índios das etnias Guarani Kaiowá e Terena.

Estão sendo levados a um beco sem saída, e ao menos que o governo demarque suas terras ancestrais e proíba a entrada nelas de todo aquele que não for indígena, não poderão sobreviver. Como resultado desta situação, os níveis de violência na região são extremadamente altos", enfatizou o missionário.

Dados do CIMI revelam que, desde 2003, foram assassinados 279 indígenas em Mato Grosso do Sul. Em 2011, a cifra chegou a 51 indígenas em todo o Brasil, 32 deles em Mato Grosso do Sul. “Na terra indígena de Dourados, em 2011, o índice de homicídios foi de 140 por 100 mil habitantes, ou seja, 14 vezes superior à mortalidade nos países em estado de guerra civil, como foi o caso do Iraque”.

Em Mato Grosso do Sul, a terra do agrobussines, as vítimas são sempre culpadas, e uma bala paga seu preço se termina com a vida de um indígena.

Da Terra sem Mal

À busca do Trabalho sem Mal

Despojados de suas terras ancestrais, encurralados pelos pecuaristas e pelo deserto verde do agrobussines, os Guaraní Kaiowá e os Terena entraram em um processo de proletarização e são explorados como mão-de-obra barata.

Milhares de indígenas trabalham agora nas carvoarias, nos canaviais ou em algum frigorífico onde frangos e trabalhadores são triturados ao mesmo tempo. Mato Grosso do Sul está em 4° lugar no ranking nacional elaborado pelo Ministério do Trabalho, que registra trabalhadores em situação análoga à escravidão.

No canavial, “como o pagamento é feito de acordo com a produção, trabalha-se para cumprir uma cota que cresce com a mecanização.Diversos cortadores informam que a meta atual em Mato Grosso do Sul é de 9 toneladas de cana cortada por dia. Aqueles que cortam menos não têm emprego”(1).

Marcos Antônio Pedro, um índio Terena, conseguiu trabalho no frigorífico avícola de Cargill em Sidrolândia. Morreu triturado por uma máquina em um lamentável acidente, no dia 28 de março de 2008.

A transnacional informou que Marcos tinha se suicidado. Naquele ano, a cada 66 segundos se desossavam seis peças de frango, entre coxas e sobrecoxas. Uns 100 trabalhadores por mês pediam demissão ou, quando já não serviam, eram demitidos.

Os Guaraní Kaiowa e Terena continuam sua busca pela Terra Sem Mal.

Porém agora, além de tudo, eles já são 20 por cento dos quadros das avícolas de Mato Grosso, e lutam por um Trabalho Sem Mal, onde as pessoas deixem de adoecer ou morrer.

27 de julho de 2014

CANDIDATURA DE CHEFE INDÍGENA É LANÇADA DENTRO DAS TRADIÇÕES

Reprodução do vídeo

Por Tereza Amaral com Flávio Bittencourt
e Natanael Cáceres
O modo de vida dos povos Guarani-Kaiowa tem um diferencial em seu rico sistema de crenças. E a candidatura a deputado federal do cacique Ládio Veron (PSOL) não poderia ser diferente, tendo sido marcada por um ritual de passagem. 


Veja vídeo!



24 de julho de 2014

Lançamento da candidatura do cacique Ládio Veron (PSOL) é celebrada com Ritual

Imagem printada


Por Tereza Amaral com Talita Veron
e Natanael Caceres*

A candidatura do chefe indígena Ládio Veron que disputa uma vaga para o cargo de deputado federal (PSOL MS/5000) foi lançada com o ritual de passagem Tekpkatu Nhemboayu.

Os anciãos realizaram a cerimônia Guarani-Kaiowá, cujo significado é "para que todos ouçam o chamado da justiça", no último sábado na aldeia Takwara.


A matriarca Julia Cavalheiro (Foto), viúva do cacique Marcos Veron brutalmente assassinado pelo agrocrime, em 2003, emocionou com um apelo feito no encerramento do rito.

"Eu venho pedir a todos os povos da terra para pegar um na mão do outro, como no Gwaxiré (dança tradicional) para chegar no final que será um novo tempo, pois ele será a nossa voz no meio daqueles que nos tem oprimido", disse a mãe do candidato Ládio Veron.


Um dos líderes da Resistência Indígena no Mato Grosso do Sul, o chefe indígena está otimista.
Ele concorre a um cargo político pela primeira vez e conta com o apoio da Grande Assembleia dos Povos Guarani e Kaiowá (Aty Guasu).Veja pronunciamento de uma liderança da Aty Guasu!


Assista entrevista por Talita Veron com tradução abaixo:




Tradução


Cacique Ládio Veron o que o senhor tem a nos dizer 
sobre este momento da sua candidatura?

"Estou muito confiante nos parentes, nos caciques, 
estou confiante em todas as pessoas porque não é 
eu sozinho que tomei essa decisão de tomar a 
frente da luta do povo Kaiowá e Guarani.

Com a aprovação da Aty Guas tenho uma grande 
confiança e estou confiante também que farei um 
bom trabalho e poderei contribuir com o povo e 
todos que me derem um voto de confiança".

Audiovisual e Foto _ Natanael Caceres!