8 de dezembro de 2014

Retomar para Existir

O processo de retomadas dos tekohas, termo equivocadamente substituído por ocupação e invasão pelo agronegócio, é a reocupação de territórios usurpados pelo Estado brasileiro.

Por Tereza Amaral
A retomada faz parte da resistência articulada por líderes políticos e espirituais que tentam recuperar a territorialidade essencial para o modo de vida Guarani- kaiowá. Em seu sistema de crenças, a terra é constituída de seres visíveis e invisíveis com os quais os indígenas devem conviver de forma equilibrada por meio de diálogo e respeito mútuo. 

Fabio Rodrigues Pozzebom _ ABr
E o contrário os prejudica. O diálogo se dá através de  rituais religiosos - cantos e rezas - que permitem uma boa relação com os espíritos guardiões da terra.
Eis a importância vital da demarcação dos territórios e o seu engavetamento vem resultando em etnocídio e genocídio com morte cultural e física.
A luta pelo tekoha para os resistentes e a não aceitação do confinamento na reserva indígena  é considerada "como a maior violência e genocídio contra povos nativos. Os guarani e kaiowá nunca viveram confinados antes de 1910. Quer dizer, antes da criação da reserva indígena, eles viviam de modo autônomo, saudáveis e não passavam fome nem miséria". A avaliacão é do o Doutor em Antropologia Tonico Benites em entrevista concedida ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU).

O antropólogo Guarani-Kaiowá considera também que nas reservas os indígenas "permanecem ocupando a posição social escravizada, subalterna e, sobretudo, vivem em condições humilhantes, constrangidos e instáveis, além de se encontrar longe de seus tradicionais territórios. Essa condição social de instabilidade leva os jovens ao estado de desespero e miséria, que causa violências variadas e suicídios epidêmicos".

Débito Histórico

A primeira expulsão dos Guarani-Kaiowá foi feita para colonizar a nova faixa de fronteira entre Brasil e Paraguai após a Guerra da Tríplice Aliança ((1864-1870).Os territórios indígenas localizados no atual Cone Sul de Mato Grosso do Sul em que habitavam foram vendidos e os indígenas expulsos pelos compradores que ergueram fazendas sobre os seus territórios.

Na década de 70 surgem novos proprietários - uma conexão de não indígenas, políticos locais e militares - desencadeando a violência no atual sul de Mato Grosso do Sul, vale ressaltar, que com participação do extinto SPI (Serviço de Proteção aos Índio), hoje Funai. Os Guarani -kaiowá expulsos de seus lugares tradicionais retornam e continuam firmes na Resistência. O motivo? Existir.

Fonte: Antropólogo Tonico Benites em Entrevista ao IHU

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