15 de dezembro de 2014

Guaran-kaiowá representou o Brasil no Prêmio Crianças do Mundo que Elegeu Malala Yousafzai

“Senti muito orgulho ao ouvir a única criança brasileira participante da cerimônia se pronunciar em guarani durante uma solenidade tão especial, cercada da presença de importantes autoridades públicas, como a Rainha Silvia e o primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven”Christiane Sampaio, coordenadora no Brasil do Prêmio Crianças do Mundo






Sérgio Santos, em
Discursando em guarani, Jhonn Nara Gomes, 14, representou o Brasil na solenidade oficial do Prêmio Crianças do Mundo, realizada no Castelo de Gripsholm, na Suécia, no dia 29 de outubro. No país fica a sede da fundação que leva o mesmo nome da premiação.

Jhonn reside na comunidade Guaiviry, localizada na mata da fazenda Nova Aurora, entre os municípios de Ponta Porã e Aral Moreira (a 55 quilômetros de Amambai) e é a única criança brasileira a integrar o Júri Especial, formado por 12 representantes de várias nacionalidades, responsável pela eleição anual de três heróis que lutam pelos direitos infantis.
Em 2014, a paquistanesa Malala Yousafzai recebeu o título de ‘Heroína dos Direitos da Criança’. Ela defende o direito das meninas do país natal à educação, discutindo abertamente a questão desde os 11 anos de idade, quando o Talibã decretou que elas deixassem de frequentar a escola no Vale do Swat. Malala ficou gravemente ferida em um atentado armado em 2012 e recentemente recebeu o Nobel da Paz.
Além dela, foram indicados John Wood, que deixou um importante cargo na Microsoft para lutar pela efetivação do direito das crianças à educação e desenvolver ações de combate à pobreza, e Indira Ranamagar, protagonista da causa que envolve filhos de prisioneiros presos no Nepal.
“Senti muito orgulho ao ouvir a única criança brasileira participante da cerimônia se pronunciar em guarani durante uma solenidade tão especial, cercada da presença de importantes autoridades públicas, como a Rainha Silvia e o primeiro-ministro da Suécia, Stefan Löfven”, diz Christiane Sampaio, coordenadora no Brasil do Prêmio Crianças do Mundo.
No primeiro semestre de 2015, jornalistas suecos que trabalham para a Fundação The World's Children's Prize virão a Amambai para fazer uma reportagem com Jhonn Nara para a revista Globen. A publicação alcança milhares de crianças em pelo menos cem países. No Brasil, é utilizada como conteúdo pedagógico por escolas públicas e privadas que participam do programa Prêmio Crianças do Mundo.
“Acreditamos que, através da publicação, iremos sensibilizar mais pessoas sobre a situação dos Guarani kaiowá e os direitos das crianças indígenas”, ressalta Sampaio.
O empenho das equipes da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Amambai e de Ponta Porã foi fundamental no processo que envolveu a retirada da documentação de Jhonn Nara para a viagem à Suécia, assegurando sua participação no Júri Internacional já em 2014. A titulação só expirará em 2018, ano em que Jhonn atingirá a maioridade.
Engajamento
Na sua apresentação, Jhonn Nara destacou ser representante dos direitos das crianças que estão em regiões de conflito. A área em que ela reside está sob litígio. O caso ganhou repercussão após a morte do cacique Nízio Gomes, que completou três anos no dia 18 de novembro.
O processo que apura o envolvimento de 19 pessoas no assassinato do líder indígena, segundo especialistas, pode levar até cinco anos. O processo tramita desde janeiro de 2012. Nízio desapareceu durante confronto entre índios e seguranças de produtores rurais. Testemunhas e a investigação policial afirmam que o cacique foi morto a tiros por pistoleiros e o cadáver ocultado.
Lideranças da comunidade Guaiviry reivindicam a demarcação de terras entre Aral Moreira e Ponta Porã. Residem na área 286 pessoas. “Estamos cansados de esperar pelo papel”, diz o líder Genito Gomes, tio de Jhonn Nara.
Embora demonstre maturidade incomum para uma adolescente, Jhonn Nara não abre mão das brincadeiras. Uma de suas preferidas alude às tradições Guarani kaiowá através da ciranda, denominada kotyhu.
Visão deturpada
Segundo Johnn Nara, os europeus demonstraram surpresa após seu relato sobre a realidade Guarani kaiowá. “As notícias que chegam até eles afirmam que os indígenas brasileiros possuem terras suficientes e que o governo está empenhado em resolver a questão. Eu não fui a Suécia com o simples objetivo de conhecer um castelo. Falei sobre nossa difícil situação”, diz.
Segundo ela, é prioritário para a causa que defende desmistificar a visão distorcida da história, em que o índio é sempre o invasor. O pleito fundamental da comunidade Guaiviry e de centenas de outras país afora é a anexação territorial do que consideram “originariamente de direito”.
Prêmio Crianças do Mundo
O Prêmio Crianças do Mundo é uma iniciativa que visa envolver meninas e meninos ao redor do globo em discussões como direitos das crianças e adolescentes, democracia e participação e mobilização social.
Os candidatos são indicados por organizações que atuam pela promoção do direito à infância e por escolas, crianças e adolescentes de 110 países.
As crianças, em parceria com seus educadores, realizam apresentações sobre os candidatos nas escolas e discutem como os indicados atuam pela promoção dos direitos da infância.
Todo o cerimonial, que acontece em quase 60 mil escolas pelo mundo, é conduzido pelas crianças. Ao final do processo, são espalhadas urnas e cédulas oficiais, que depois são encaminhadas à central organizadora do Prêmio, na Suécia. Com todos os votos somados, um herói é escolhido. Outros dois nomeados recebem o título de ‘Amigo da Criança’.
Mais de 27 milhões de crianças são filiadas ao Prêmio, através das “escolas amigas mundiais’. Na maior votação até o momento, em 2009, participaram 7,1 milhões de meninos e meninas.

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