30 de janeiro de 2014

Polícia Federal prende cinco índios Tenharim


A Polícia Federal prendeu nesta quinta-feira (30) 

cinco índios da etnia tenharim por acusação de 

supostos crimes de sequestros e homicídio contra 

Stef Pinheiro, Luciano Freire e Aldeney Salvador, 

desaparecidos dentro da reserva indígena, na 

Transamazônica, desde o dia 16 de dezembro de 

2013, no sul do Amazonas.

PF usou uma delegacia movel para ouvir os depoimentos dos índios  _ Foto/ Gabriel Ivan

Segundo informações do Exército brasileiro, as prisões ocorreram durante grande operação da força-tarefa, que contou com apoio de helicópteros e a presença do superintendente da PF de Rondônia, delegado Arcelino Damasceno, na região da aldeia Tracuá, na reserva indígena Tenharim-Marmelos, entre as cidades de Manicoré e Humaitá (591 quilômetros de Manaus).
Não há informações sobre prisões de índios da etnia jiahui ou não indígenas. Os cinco presos foram deslocados com escolta para a sede da Polícia Federal em Porto Velho, que fica a 200 quilômetros de Humaitá.
A reportagem não localizou ainda os familiares dos desaparecidos e lideranças tenharim para comentarem sobre o resultado das investigações.
As prisões são resultado de uma série de ao menos dez depoimentos de índios tenharim e jiahui que o delegado da PF, Alexandre Alves, tomou dentro da reserva para elucidar os crimes. Informações sobre os resultado das buscas aos três homens, das perícias realizadas nas peças encontradas na reserva  e as causas dos crimes não foram divulgadas.
Conforme o portal Amazônia Real apurou,  a possível prisão de indígenas tenharim já era esperada pela defesa dos índios. Desde o dia 21 de janeiro tramita na Justiça do Amazonas um pedido de habeas corpus preventivo, que é um mecanismo jurídico para evitar a decretação de prisões ou constrangimentos. O pedido para índios tenharim e jiahui está sendo analisado pelo Ministério Público Federal, que ainda não se posicionou em parecer.
As famílias dos três homens desaparecidos acusaram os índios tenharim de responsabilidade no caso por motivo de vingança pela morte do cacique Ivan Tenharim no dia 02 de dezembro. As lideranças sempre negaram envolvimento.
Parte do grupo indígena também nega que os desaparecimentos estejam relacionados a morte do cacique Ivan Tenharim. Porém, outros grupos  de índios e o ex-coordenador da Funai (Fundação Nacional do Índio), Ivã Bocchini, levantaram a suspeita de assassinato para a morte do cacique.  Continue lendo em Mais Informações!


Para a família do cacique a morte dele foi um acidente de motocicleta, segundo o advogado Ricardo Albuquerque. “O atestado de óbito diz que foi um acidente de motocicleta. A família dele não suspeita não e derem, no primeiro momento, como acidente mesmo”, afirmou.
Em entrevista anterior, um dos líderes da etnia Ivanildo Tenharim disse que nenhum índio revelou participação nos crimes, mas se a Polícia Federal descobrisse, as punições seriam dentro da lei. “Nós estamos aguardando o resultado das investigações da Polícia Federal. Se for comprovado que foi alguém daqui, vai responder como qualquer cidadão. Na verdade, não tem outra forma de punir, a não ser com a polícia”, afirmou Ivanildo Tenharim.
Por causa dos desaparecimentos e falta de buscas do professor Stef Pinheiro de Souza, 43, do gerente da Eletrobrás Amazonas Energia, Aldeney Ribeiro Salvador, 40, e do comerciante Luciano da Conceição Ferreira Freire, 30, a população das cidades de Apuí, Manicoré e Humaitá, no sul do Amazonas, se revoltaram no dia 25 de dezembro.
Durantes os protestos, cerca de 3.000 manifestantes atearam fogo em carros e barcos da Funai, na sede do órgão, na Casa do Índio da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), único local de tratamento de saúde indígena. Cerca de 143 índios foram ameaçados de morte e alojados num quartel do Exército na cidade.
No dia 27 dezembro, cerca de 300 pessoas, entre madeireiros e fazendeiros, invadiram aldeias da Terra Indígena Tenharim com a justificativa de buscarem os corpos dos homens desaparecidos.
Em outro ponto da reserva Tenharim-Marmelos, os manifestantes descontentes com a cobrança de pedágios que os índios fazem de motoristas, destruíram com machados, facões e fogo o posto de cobrança das taxas e as casas de alguns tenharim.
A violência em Humaitá provocou também uma onda de discriminação contra os tenharim nas cidades e nas redes sociais. A pedido do Ministério Público Federal do Amazonas, a Justiça Federal determinou a formação de uma força-tarefa para o sul do Amazonas para resguardar as etnias e a população de distúrbios sociais.
A Polícia Federal abriu três inquéritos para investigar a morte do cacique, os desaparecimentos e a destruição de bens públicos federais.
A presidente Dilma Rousseff também interveio no sul do Amazonas, região conhecida pela violência no campo, mas com total ausência do poder público. Ela determinou o fim de cobrança de pedágio pelos índios. Também enviou uma comissão de paz para negociar o fim dos conflitos e uma compensação para os índios pela construção da BR 230, que cortou a reserva Tenharim-Marmelos nos anos 70.
Cerca de 700 homens da Polícia Federal, da Força Nacional de Segurança, do Exército, da Polícia Rodoviária Federal e da Polícia Militar do Amazonas estão na região há 30 dias. É a maior operação numa região da Amazônia desde a morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, em 2005.

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