15 de outubro de 2013

Índios yanomami denunciam interferência política em favor de missão evangélica na gestão de saúde e reclamam de atendimento

Davi Kopenawa (centro), principal liderança yanomami. Foto: Beto Ricardo-ISA
Blog Elaíze Farias
Em ofício divulgado nesta segunda-feira (14), lideranças indígenas denunciam a interferência política na permanência da missão evangélica Caiú na gestão de saúde entre os índios yanomami (Roraima e Amazonas) e reclamam que, apesar do aumento do recursos financeiros, o atendimento piorou.
Segundo o documento divulgado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY), uma gravação feita durante reunião entre o deputado estadual Jânio Xingu (PSL) e gestores e funcionários do Dsei Yanomami teria atestado “indícios de ligações e influências de políticos locais com os gestores visando a manutenção da missão evangélica Caiú”. Esta é a empresa terceirizada responsável pela contratação de funcionários que prestam serviço na Terra Indígena Yanomami e Yekuana.
No documento, os indígenas pedem a saída da coordenadora do Dsei, Joana Claudete, e do responsável pelos recursos humanos do órgão, Ismael Cardeal, que também é coordenador regional da Caiú. O pedido oficial, assinado pelo presidente da HAY, Davi Kopenawa, foi enviado para o secretário especial de saúde indígena, Antônio Alves, órgão federal responsável pela saúde indígena, vinculado ao Ministério da Saúde.
No documento (que embora tenha sido divulgado nesta segunda-feira tem data do dia 4 de outubro), os indígenas explicam a insatisfação com a atual gestão de saúde yanomami e demonstram surpresa com o atendimento (ruim) tendo em vista que o órgão possui um orçamento suficiente para executar as ações de saúde.
Saúde não melhorou
Diz trecho do documento: “Não compreendemos como o Dsei Yanomami pode estar prestando um serviço de saúde com os problemas que vivenciamos tendo cerca de 48 milhões só para o exercício de 2013, fora os mais 38 milhões da Missão Evangélica Caiuá que é responsável apenas pela contratação dos funcionários. Este orçamento em anos anteriores era de 8 milhões no máximo. Aumentaram os recursos, mas não melhorou a saúde e a qualidade de vida. Hoje existe mais remoção do que prevenção dentro da TI Yanomami. Chama a atenção o fato de que em 2012 foi gasto R$ 16.500,00 destinado a pagamento de funerária e no período de janeiro a setembro de 2013 esse gasto aumentou para R$ 81.880,00”.
Os indígenas já haviam mostrado sua insatisfação com a atual gestão de saúde indígena durante a 5ª Conferência Nacional de Saúde Indígena (Condisi), realizada entre os dias 28 e 30 de setembro, em Boa Vista (RR). A reunião do Condisi contou com a participação de 150 delegados – 115 deles representando os Yanomami, Sanuma, Ninam, Yanomae e Ye’kuana.
Em declaração feita durante a reunião do Condisi, Dav i Kopenawa comentou a denúncia, dizendo que se trata de um “problema antigo”, mas que os indígenas acreditavam que Joana Claudete poderia solucionar a situação ao ser “colocada” no cargo de coordenadora do Dsey Yanomami. A declaração de Davi está em matéria do Instituto Socialambiental (ISA) sobre a conferência do Condisi.
“Hoje nós queremos tirar o Antônio porque ele não está trabalhando bem. Vocês estão se aproximando do deputado, ele quer desviar o dinheiro da saúde indígena. Por isso eu estou aqui abrindo a minha alma e falando que a senhora Joana Claudete, a senhora tomou o chá do deputado, do político. Eu quero que o ministro Alexandre Padilha venha aqui em Boa Vista para resolver esse problema. Eu desconfiava mas agora apareceu, a cobra grande quer comer os yanomami … Nós Yanomami colocamos a senhora para cuidar de nós, mas agora esse político colocou minhoca na sua cabeça. Agora que nós descobrimos, estamos revoltados! Tem muitos Yanomami morrendo na cidade e nas comunidades por isso fizemos documento e vamos mandar para Brasília, para acordar o governo. Eu queria dizer para todo o mundo que essa é a nossa luta, que a nossa luta é ficar em pé, nós vamos botar pra frente. Vocês parentes não podem ter medo, nós vamos botar esse trabalho para frente, esses vão sair, vão para casa deles e nós vamos cuidar da nossa saúde”.

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