28 de abril de 2013

Kaigang: 'Na Borda do Copo' do Alcoolismo

Por Tereza Amaral

Com uma população  de 20 mil habitantes (estimativa 2011) jovens Kaingang  estão sendo vitimados pelo alcoolismo e suicídio. Distribuídos pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, eles vivem em Terras Indígenas e Aldeias Urbanas, estas ainda em processo de demarcação. Trata-se de uma das mais populosas etnias brasileiras e com os Xokleng (SC) constituem o chamado tronco linguístico Jê Meridional ou Jê do Sul.

Segundo estudo do pesquisador Paulo Caldas Ribeiro Ramon (CNPq/MDS), no período de 2001 a 2006 foram realizadas conferências sobre alcoolismo nas  comunidades e, dentre as estratégias, foi decidido desde o aconselhamento, privação da liberdade, consentimentos e até expulsões no enfrentamento da situação pelas lideranças. Algumas escolas indígenas têm realizado um trabalho preventivo  dialogando sobre a questão. Na opinião do pesquisador, são “incipientes diante da gravidade do problema”.  

Repetição Histórica

Com ajuda de antropólogos, o pesquisador foi mais a fundo para entender o problema.  A presença dos índios  no Vale do Ivaí está relacionada com a expansão das fazendas de gado nos Campos Gerais e na região de Guarapuava (desde o início do século XIX ), tendo sido forçada a migração.
Os indígenas sofreram pressão das populações não indígenas chegadas neste período para ocupação do mesmo território.
Através da Lei nº 853/1909, o governo do Paraná , à época, decretou que as terras à margem direita do rio Ivaí eram dos Kaigang. Estudiosos acreditam que o governo republicano pensava em agrupá-los com vistas à “catequizá-los” e “civilizá-los”. A partir de 1912. diferentes regiões do Paraná passaram a receber colonizadores alemães, poloneses e ucranianos que fundaram colônias ou núcleos de povoação.
Além destes, os territórios foram sendo ocupados por populações não indígenas da região de Guarapuava. Muitos foram os conflitos provenientes neste processo e pelo fato do governo do Paraná ter destinado terras sem regulamentação. Houve lutas e disputas.
Exemplo disso é o “sangrento episódio da guerra de Pitanga envolvendo os Kaigang e outras populações da região”. Um outro decreto subtraiu terras e, em 1949 , o governo do estado firmou com a União um acordo diminuindo consideravelmente as extensões da grande maioria das áreas indígenas  em benefício de fazendeiros, colonos e imigrantes que haviam já se apropriado das terras.
E sob a justificativa de “reestruturação” das áreas indígenas, esse acordo expropriou cerca de 90% dos territórios demarcados em decretos anteriores, tendo todos sido revogados e as terras indígenas sofreram  grande redução nas suas extensões. 
Mais adiante, com o “projeto de desenvolvimento” da expansão das fazendas de café - promoveram a devastação da fauna e flora - foram obrigados a residir nos Postos Indígenas demarcados pelo estado e foi delegado ao extinto SPI – Serviço de Proteção ao Índio - poder em administrar os conflitos e atender aos inúmeros problemas surgidos entre fazendeiros, políticos locais e os índios.
Nos períodos seguintes chegaram novos imigrantes poloneses, italianos, alemães, ucranianos, libaneses, além de brasileiros paulistas, mineiros, nordestinos, gaúchos, catarinenses em detrimento da propaganda atrativa para o mercado do café.
E isso colocou fim à mobilidade das populações.. Tradicionalmente os indígenas que habitam o Estado do Paraná (Guarani, Kaigang e Xetá ) viviam em grandes extensões de terra. E a forma de organização era propícia para o manejo ecológico do território, acesso a alimentação proveniente da caça, pesca e coleta - mel, frutas, pinhões, raízes, plantas, dentre outros - , isso sem fala que com identificação, prevenção e controle de doenças.
De acordo com o pesquisador, o processo violento de usurpação e venda das terras na região levou ao aldeamento destas populações em pequenas extensões de terras," aglomerando um grande número de pessoas em uma mesma aldeia sem infra-estrutura e em confronto com a organização sociocultural indígena. Isso resultou no sedentarismo, na dependência, assistencialismo governamental, falta de perspectivas e alternativas dignas de vida, desesperança, e a introdução de bebidas alcoólicas, em muitos casos, inclusive, incentivada pelo poder público para acalmar" .
A história se repete em várias etnias brasileiras, dentre elas os Guarani-Kaiowá. Considerado como um dos mais graves problemas de saúde pública do país, o alcoolismo acomete grande parte das populações indígenas em todo o estado do Paraná, sobretudo jovens cujas alternativas de vida são pouco promissoras. E com ele ocorrem os suicídios

Adolescente alcoolizado em Feijó (AC)
Foto _ site Feijó Notícias
Indígenas alcoolizados na rodovia MS 289
Guarani-Kaiowá na Praça Amabaí  Foto _ A Gazeta News

Saiba mais sobre os povos Kaikang! http://pib.socioambiental.org/pt/povo/kaingang



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