28 de abril de 2013

Guarani-Kaiowá : Suicídio

Foto compartilhada/ Heitor Karai Awá-Ruvixá 
Por Tereza Amaral
Suicídios, tentativas e as recidivas entre os Guarani têm despertado o interesse de pesquisadores e estudiosos de diferentes áreas. Em aldeias do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, os pesquisadores Sonia Grubits, Heloisa Bruna Grubits Freire e José Angel Vera Noriega (Scielo*) observaram  e acompanharam problemas enfrentados  pelos indígenas. Eles levantaram questionamentos sobre o que motiva direta ou indiretamente à autodestruição.   

                                         
Em apenas  oito anos  410 Guarani/Kaiowál tiraram a própria vida (2000 a 2008/Funasa), sendo o enforcamento o método mais utilizado (MS). Já as tentativas  não foram registradas. O estado é o segundo do Brasil em número nos censos de populações indígenas , totalizando 63.963 índios. A maioria dos suicidas ocorre em homens, muito embora o percentual em mulheres já se aproxima. E são registrados nas faixas etárias abaixo de 29 anos. Duas mortes de crianças foram registradas (5 a 9 anos).
O grupo enfrenta problemas de disputa de terras enquanto aguarda a  demarcação.  As dificuldades na tomada de decisão  são devido ao tempo da ocupação da terra por não índios  sem propriedades, mas com certificação de mais de duas gerações da mesma família. Entretanto. estudos arqueológicos e antropológicos revelam que nesse mesmo espaço havia indígenas.
A proximidade com a sociedade capitalista e  delimitação territorial das reservas resultaram no abandono da vida nômade. Houve, com isso,  impedimento do deslocamento dos grupos. A poluição do meio ambiente onde estão localizados,  imposição de novas religiões -  desorganizando-os social e culturalmente - são alguns dos motivos que os empurra para o abismo do alcoolismo e  prostituição.  
Suicídio
Os casos notificados entre os Guarani/Kaiowá ocorrem no período da adolescência. Os pesquisadores recorreram a inúmeros autores na tentativa de ‘diagnosticar’ o suicídio e chegaram a uma conclusão: "podemos afirmar que as conclusões de Cassorla (1981, 1991), Castellan (1991), Durkheim (1977), Erickson (1987) e Mioto (1994) são pertinentes à situação dos Guarani-Kaiowá, tendo em vista as suas vivências, desde os primeiros anos de vida, de situações ou de relatos de suicídios e o seu contexto social e cultural".
O feitiço, encontrado em todos grupos brasileiros, também é abordado. “Nos estudos de campo realizados por Brand (1997) com os Guarani/Kaiowá eles colocam que os suicídios são provocados pela força de práticas de feitiço”. Mas indígenas e pesquisadores consideram mesmo que desajustes ou mesmo doença são as causas , haja visto relatos falam “de tristeza, de nervoso, de não se conseguir expressar o que se tem ou o que se sente”.
Casos de cura foram atribuídos  por todos os entrevistados  à terapia com danças e cantos, feita no núcleo familiar, sob orientação de líderes religiosos. Ele dizem que vivenciaram " o taruju com fases de variada intensidade da doença, com dias normais seguidos por fases obscuras.”
Os pesquisadores acreditam que o despreparo dos funcionários do governo para lidar com os indígenas, “a exemplo dos funcionários federais que desenvolveram estratégias de apoio aos elementos indígenas mais desestruturados e menos integrados a cultura e a comunidade Guarani/Kaiowá, objetivando desarticular lideranças e quebrar sua autonomia interna”, além do uso do índio como mão de obra disponível e barata,  a presença de cerca de 20 igrejas pentecostais e  o arrendamento da terra introduzido pelos órgãos indigenistas  no passado são fatores desencadeantes.
Também mencionam a visão de mundo - de vida e morte - de acordo com a cosmologia Guarani/Kaiowá. “É muito complexa para o entendimento; de modo geral a própria concepção de educação, de formação da personalidade infantil, de acordo com a cultura tradicional não segue padrões mais comuns da sociedade nacional, interferindo no processo de construção da identidade dos grupos”.
* Artigo na íntegra 

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